terça-feira, 31 de maio de 2011

LEMBRANÇAS

Dizem que recordar é viver. E não é que procurando ouro encontrei prata? Explico-me: pesquisando para o MBA, deparei-me com um texto que escrevi em 2008. São lembranças, algumas das minhas caras lembranças. Aí, resolvi publicar (na íntegra). Segue:

"Discuti Schopenhauer e toda sua vontade e representação em espanhol, pleno domingo de manhã, na praça de alimentação do Via Direta, com os melhores colegas de faculdade que alguém poderia ter.


Varei madrugada no Cefet (Tati que o diga), usufruindo do computador da coordenação de curso, terminando o tão precioso trabalho de final de semestre. Fiz artigos pra revistas, escrevi pra livros e quis mudar o mundo.


Participei da fundação de um DCE e fui diretora de comunicação de um DCE. Vi muita gente querendo roubar e não é que alguns roubaram? (dizem...eu não sei de nada!).


Peguei 3 dias de rodovia dentro de ônibus, tomei banho em posto, almocei em restaurante de beira de estrada. Fui à encontros de estudantes e inúmeros congressos. Dormi quase no chão, porque meu colchonete tinha só nome. Já acampei também, só que no quintal de casa. Isso conta, né?


Participei de noitadas incríveis em padarias, meios de ruas, calçadas e praças, entre gente de todos os cantos. Fui "cameloar" na 25 de março e comprei uma pranchinha pra deixar o cabelo liso. Só não diziam que além de liso, ficava estragado também!


Curti tributo a Raul Seixas, pensando "O que eu estou fazendo aqui?" Fui ver Belchior pra cantar "Eu sou apenas um rapaz, latino-americano sem dinheiro no banco..." e depois rir com a idéia de: "Foi por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez a sua mão..." Em troca de 1kg de alimento não perecível ou cinco paus, ganhei muitos domingos e dias da semana com Chico César, Oswaldo Montenegro, Yamandu, Ginga, Ana Botafogo, Vanessa da Mata, Zeca Baleiro, Cordel do Fogo Encantado, etc, etc, etc.


Já ouvi muita música instrumental. No começo - preciso confessar - aquilo dava uma agonia, era um se mexer pra lá, pra cá... Até captar a maravilha de Chopin, o conhecidíssimo Bolero (de Ravel) e entender aqueles sons todos de Piazzolla, Vivaldi, Tira Poeira e companhia ILIMITADA. Paguei a melhor disciplina que pode existir na UFRN: Música Popular Brasileira. Uma vez por semana um milagre acontecia e eu não me atrasava pra aula. As manhãs de quartas-feiras eram mais felizes. Valsinha, polca, choro, samba, rock, bossa, tropicalismo... Ai que saudades!


No parque (Como eu amo um parque de diversão! Detesto aqueles adultos que olham pra mim e falam: " Parece que não teve infância." Ah, vão ver se estou na China.) Mas, voltando... No parque, já fiz medo em quem ao invés de curtir os brinquedos rezava Ave Maria e Pai Nosso pra não cair de ponta cabeça.


Já sonhei tanto, sonhos meus e dos outros. E hoje, quando passo por situações que outros sonharam, penso nas pessoas que me são caras e já se foram.


Carreata em tempo de política? Lá estava eu tb. Dancinhas coreografadas dentro do carro, cantar música bemmmmm altoooooooo e rir muito... De tudo, de nada :) Apostar corrida com os amigos pelas avenidas vazias e dizer ao tempo e ao vento: "Já disse que te amo hoje? Eu te amooooo".


Já andei com uma amiga de moto táxi. Escapei de um incêndio fictício num hotel e me perdi em Miami. Vez por outra aporto na Tropical em busca de um sorvete e reviver a infância. É lógico que o homem da rabeca tem que estar lá, caso contrário não tem graça.


Já ganhei dois presentes de amigo secreto porque se confundiram e não sabiam mais quem tinham tirado. Já levei susto dos amigos em Acari, enquanto vislumbrava o Gargalheiras e eles invadiram o quarto pela varanda.


Já busquei o frio em Martins e tentei enxergar desenhos nas pedras. Até agora estou procurando o rosto de Cristo que o povo dizia "Ali. Você não está vendo?". Confesso que acho mais prático ver figura nas nuvens.


Passei madrugada na Fortaleza dos Reis Magos. Vinho, céu, violão, lua abençoada, planetas, estrelas e observação do espaço com a turma de Física. Amanhecendo, que cenário lindo.... A lua se indo, o sol se aprochegando.


Assisti a muito luar do sertão e pelo amor de Deus, é lindo demaissssssssssss da conta. Igual ver vagalume de noitinha, embaixo da árvore onde ficava meu balanço no sítio do meu vô; assim como fogueira em noite de São João; sorriso de criança; lágrimas de felicidade no rosto dos pais; deitar em frente árvore de Natal e tentar adivinhar qual é o meu presente.


Ei, esperei o presente do Papai Noel muitas vezes na praia e ele nunca decepcionou. O presente sempre aparecia debaixo da cama. E era também na praia que achávamos de ver alma e que numa noite reunimos os primos para assistir ao Exorcista - pura tensão no ar.


E no dia em que roubaram o peru do freezer? E o Bloco da Porta no carnaval que só tinha nós e a porta e nós íamos passando ao som das marchinhas eternas? E ao menos uma noite era certa a invasão da casa de praia pelo meu tio tocando trompete. Mas, isso foi depois... quando já éramos crescidos e não nos escondíamos mais do Boi e dos Índios.


Disseram-me que "trocamos" de amigos porque nossos interesses e os deles mudam. E sabe o que é pior? Eu acreditei. Até o dia em que descobri que não preciso mudar de amigos se entender que eles mudam.


Tomei tanto banho de perfume (pense numa menina sem noção) que dei muita dor de cabeça aos colegas de colégio. Teve um dia que o maldito Lou Lou derramou na mochila. Deus me livre e guarde.


Também tomei muito banho de chuva. Quer saber? Ainda tomo. Mas é segredo, tá? Mainha continua reclamando, enquanto painho continua a dizer que não faz mal.


Não suporto cigarro perto de mim e com delicadeza (até parece), solicito ao deselegante que pare de fumar ao meu lado. Apesar disso, já fumei charuto e cigarrilha. E não me venham com "mas, mas". Foi bom! Mas, isso só entre amigos, uma vez ao ano e não viciou.


Ah, são tantas coisas. Por hora está bom, pois tenho que terminar outro texto. Dessa vez, o texto é do trabalho."



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