segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

KHRYSTAL E ZÉ DIAS: OPERÁRIOS DA MÚSICA


Ainda saindo do carro, eu escuto: “Você tem quarenta segundos até que o portão (eletrônico) se feche.” Quatro andares acima, eis que encontro uma A4. Em cor azul, está escrito: Casa de Zé Dias e Khrystal. A porta é aberta e a dona da casa me convida a entrar. Em meio à profusão de discos, aparece de bermuda, o dono da voz que havia me alertado momentos antes. Um homem, uma mulher, um casal. Dois operários da música potiguar.

Toda história a dois começa com um encontro. Às vezes ele é planejado, em outras, simplesmente acontece. No caso de Khrystal e Zé Dias, a música foi o ponto em comum desde o princípio. Tudo começou no ano de 2004, quando a amiga de ambos, Raquel Grossman, decidiu que a cantora deveria conhecer o produtor e então, apresentou o casal. O local da troca do primeiro olhar diverge. Ela conta que foi no Solar Bela Vista, ele diz que foi no Hotel Residence, onde morava à época.

Fato é que a primeira impressão não agradou muito Khrystal. “Achei ele grosseiríssimo. A primeira coisa que ele fez foi olhar pro meu decote.” Mas a atenção foi logo desviada quando Khrystal, trajando bermuda, sandália, camiseta e de violão na mão, soltou a voz. A música escolhida era de Nado Reis, All star. Meses depois veio o namoro, o casamento sem papel passado e o filho, Jackson Luiz Brasileiro – uma homenagem a Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.

Cotidiano

Vida de marido e mulher tem lá suas peculiaridades e nem sempre segue a ladainha do cotidiano. No apartamento transformado em lar, não existe isso de lado da cama. Na hora que o sono bate, o corpo escolhe o melhor lugar para descansar e pode ser na rede, na cama do outro quarto ou na Box enorme que eles compraram porque Zé é muito espaçoso. Na hora de ir pra cozinha, não tem discussão. Zé é o chef. Ele abre uma cervejinha, deixa ali na pia e vai cortando a cebolinha, o pimentão... nessas horas Khrystal provavelmente está tocando violão, escutando música, buscando algo na internet. Sim, porque diferente de Zé que só joga paciência e acessa a conta do e-mail, ela adora baixar música, pesquisar cenário, figurinos e tudo mais que puder levar pro espetáculo.

O gosto por ficar em casa é compartilhado por ambos, assim como o apreço nada saudável, pelo cigarro. Contudo, há uma diferença. Khrystal tem planos de parar, apesar de afirmar que sua relação com o cigarro é de sentimento “é uma relação sentimental, parece que é o sexto dedo”. Já Zé Dias, traçando duas carteiras por dia, não recomenda, porém justifica “Eu vivo muito aperreado. Eu não tenho tranqüilidade financeira e me vingo no cigarro. Descobri que se fumar morro e se não fumar, morro do mesmo jeito.” Bem, ao menos a bebedeira ele deixou e quem recebe o crédito é Khrystal.“Eu deixei de beber, violentamente, por conta dela. Ela que me tirou do vício e eu não gosto quando ela bebe. Dizem que eu faço bem a ela. É mentira. Ela que faz muito mais bem a mim”.

Dividindo coração e profissão, depois de quatro anos de relacionamento, eles conseguem separar a vida pessoal da profissional, mas no começo se atrapalhavam muito. Tanto que Zé Dias fala: “Você unir as duas coisas é muito difícil. Agora, eu só tenho consciência de uma coisa, o que sustenta a relação é o amor.”

Juntos em casa, juntos nos shows, deram vida ao Disco Coisa de Preto e aos que imaginam que a voz do produtor cala a da cantora, Khrystal deixa claro: “Quem manda no que eu faço sou eu. Eu não tenho onde cair viva, mas morta eu caio em qualquer lugar. Quem dá a cara pra bater lá em cima sou eu. Quem tá com o microfone na mão sou eu.” Afirmativa assinada em baixo por Zé Dias. “Ela tem consciência de tudo. Independente de mim, Khrystal dá certo.”




Matéria publicada na íntegra na Revista Brouhaha. N° 12, maio/jun08.
Texto: Maísa Carvalho
Foto: Evaldo Gomes

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